Monday, November 08, 2004

Escrito no bolso **

Uma hora gorda vegetariana

Após deitarmos à terra uma semente, apenas faz sentido deitar nova semente e outras, consecutivamente. Poderemos – quem sabe?! – morrer pelos frutos não dados ou corrompidos da primeira árvore, da seguinte, da seguinte, da seguinte,... Nunca se sabe.
E, assim, fiz. E, ao quarto dia, já nos abordavam por marido e mulher.
Não, não casei. Podia! Podia para descansar deste jogo de seduz e larga, seduz e larga, seduzem-te e largam-te, seduz e larga, seduz... Terá fim, um fim que encha, que não transborde e que não deixe nódoa?! Sim, é como líquido. É difícil dizer-lhe “Não.”. Escorrega e, pela omissão, desce... lá fundo, tocando aquele que diz: «Bunp-bunp! Bunp-bunp! Bunp-bunp!».
Não há culpa; outro tentou acreditar-me que sim, que se deveu a um estado menos compensado ou início de descompensação. Tão não há, quanto, agora, tento não dar-me por culpada. Não tanto seduzo, mas sim o outro me seduz e, nesse período, cativa-me a atenção. Só. E, só por tempo efémero, faz bem à pele.
E, assim, fiz.
Não me recordo do que trazias vestido ou das cores que te marcavam. Porém, fica-me, para esta noite, a calma, o tom sussurante, a pele de pó de arroz, o sorriso, a preocupação com o que pensas, em tempos, ter-me ferido, a tua vergonha, o meu tratamento na terceira pessoa do singular e o teu, como meu, nervoso.
Enfim! Fica isto, para hoje. E, até quando?! Levar-me-ás ao que acenaste, tornando-me ciumenta, invejosa?!
Será esta mais uma semente?!
Pelo outro, bate triste, desiludido, num Bunp-bunp arrastado (d)e desejo, daqui a tempos, perdido. Este sim, já vejo ter sido apenas semente. Faltou tempo ou ultrapassou-se o mesmo! Não importa. Com o tempo, de mãos dadas, saberei se aprendi algo. Por enquanto, ainda lembro o que fui e penso o que espero ser, pelo que, aqui, o tempo não existe. Tarda.
Dia-sim, dia-não temo-nos visto. Cansarei?! Por que motivo este medo de ser volátil, uma vez mais volátil?!
Receio magoar-te. Não quero fazê-lo. Por enquanto, sinto-o e é bom. És bom. Acalmas. Serias meu enfermeiro, amante, padre?! Ver-me-ias não como doente, a outra, pecadora, mas com paixão?! Também, só. E conceder-me-ias exclusividade?! Agrada-te, ainda, como falo e rio?!
E fomos pela calçada molhada, absorvendo, sobre a minha cabeça, o tecido sintético a chuva grossa e que despoletou, na mulher que nos teve por casados, outra precipitação, não nos olhando os dedos. E lá ela nos insistia, alheia às gargalhadas.
Aprecio estas inconveniências. Casaram-nos e não soube!
Para quebrar o ciclo, talvez seja esta a ironia da feiticeira.
Nisto, sou mestre: nunca se sabe.

**2 de Novembro de 2004

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